O sector agrícola de Angola recebeu uma doação de 8,8 milhões de euros (mais de oito mil milhões de kwanzas) da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), para reforçar o aumento da produção do café robusta, através do projecto “Mukafe”. No passado colonial português, que antecedeu a nova colonização do MPLA iniciada em Novembro de 1975, o café (como muitos outros produtos) ocupou um lugar de destaque na diversificada economia de Angola.
O projecto “Mukafe” prevê beneficiar famílias produtoras de seis municípios das províncias do Uíge, Cuanza Norte e Cuanza Sul, regiões com elevada produção do “bago vermelho”.
Com um período de cinco anos de implementação, a partir deste ano, 2023, o projecto foi apresentado, em Luanda, pelo Ministério da Agricultura e Florestas, num evento que contou com a presença de produtores nacionais e representantes do corpo diplomático acreditado em Angola.
Segundo a coordenadora do “Mukafe”, Júlia de Carvalho, com o referido financiamento, o sector da Agricultura espera abranger aproximadamente 500 mil agricultores familiares, uma meta alcançada em 1973 (sob a égide dos anteriores colonizadores), período em que Angola foi um dos maiores produtores de café no mundo.
Júlia de Carvalho disse que um dos principais desafios do sector passa pelo alcance da produção de cerca de mil quilogramas por hectare de café comercial, prevendo cultivar num espaço de 100 mil hectares, com vista a superar a actual produção de perto de 200 quilogramas/hectare.
Por outro lado, a embaixadora da União Europeia em Angola, Jeannette Seppen, referiu que o “Mukafe” faz parte de um programa mais amplo lançado em 2020, para apoiar a diversificação da economia angolana, a “primeira prioridade do Governo”, uma promessa nunca concretizada que já tem 48 anos.
Jeannette Seppen afirmou que esta iniciativa permitirá relançar a cadeia de valor do produto, com a criação de empregos dignos para os mais vulneráveis, particularmente as mulheres e os jovens, assim como colocar Angola no ranking dos cafés de especialidade.
De acordo com a diplomata, o apoio financeiro às cadeias de valor do café facilitará a transição de Angola de um produtor histórico de grande escala de café robusta comum para um produtor especializado de alta qualidade.
Para Jeannette Seppen, o objectivo subjacente a essa transição é obter um retorno económico mais elevado das exportações do café angolano, permitindo uma melhor remuneração dos produtores e canalização de mais recursos à economia local.
A embaixadora assegurou que a União Europeia está a finalizar um acordo com a AFD para expandir o Projecto de Apoio à Formação Agrícola e Rural (PAFAR), para apoiar a capacitação de mulheres e jovens do “Mukafe”.
Já o embaixador da França em Angola, Daniel Vosgien, garantiu que AFD, em parceria com a UE, pretende prestar um apoio mais abrangente e pragmático possível à cultura do café, por ser de capital importância para a diversificação da economia angolana e criação de empregos de qualidade nas zonas rurais, em particular.
Por seu turno, o secretário de Estado para as Florestas, André de Jesus Moda, assegurou que, a partir de Outubro deste ano, o sector prevê distribuir cerca de três milhões de mudas de café, sendo a prioridade os produtores familiares.
Entre vários objectivos do “Mukafe”, destaca-se, igualmente, a melhoria da qualidade do café, contribuição do crescimento diversificado, sustentável e inclusivo, bem como a melhoria do desempenho e crescimento da cadeia de valor do café, identificar e corrigir as dificuldades existentes para o aumento da produção e produtividade.
No passado colonial português, que antecedeu a nova colonização do MPLA iniciada em Novembro de 1975 , o café (como muitos outros produtos) ocupou um lugar de destaque na economia de Angola, tendo sido considerado o principal produto de exportação, atingindo elevadas quantidades e posicionando o país como o terceiro maior produtor a nível internacional, em 1974, e o primeiro de exportação em Angola, em 1975.
Actualmente, a produção é incipiente, dominada por empresas agrícolas familiares com plantações de baixa produtividade e dificuldades de acesso ao mercado. Trata-se de um café robusto, devido à existência de zonas do país com características propícias ao desenvolvimento desta espécie: Bengo, Cabinda, Cuanzas Sul e Norte, bem como o Uíge, enquanto o café arábica aparece em pequenas quantidades em Benguela, Bié e Huambo.
No dia 23 de Novembro de… 2015, o director do Instituto Nacional do Café defendeu – qual navegador que descobriu a pedra filosofal – a aposta de Angola no modelo agro-exportador, nomeadamente do café, que considerou ser o único nesse momento com hipótese de competir rapidamente no mercado internacional, tal como aconteceu no passado.
Na altura, o embaixador da missão permanente de observação da União Africana junto da ONU, o angolano Téte António, disse que “todos os dirigentes africanos estão cientes de que é preciso diversificar as economias”, explicando que o atraso se deve aos resquícios do colonialismo, pelo que “não podemos negar que o legado colonial ainda tem um grande peso nos nossos países”.
Estaria a referir-se ao que o colonizador fez em prol do café angolano e que, 48 anos depois, ainda está muitíssimo longe de ser atingido pelos peritos do MPLA, tipo Téte António?
O director do Instituto Nacional do Café, João Ferreira, falava à imprensa, à margem da reunião de peritos, que antecedeu a 11ª Assembleia-geral da Rede de Pesquisa de Café Africana, que decorreu em Luanda, envolvendo 500 especialistas de 25 países.
Segundo o responsável, numa altura que Angola realizava esforços para diversificar a sua economia, face à crise petrolífera, o Governo tinha que pensar no modelo agro-exportador para ganhar “alguma divisa na produção agrícola”, sendo que no passado já foi um dos maiores produtores mundiais de café. Estávamos em 2015.
“Não me parece que as outras culturas consigam impor-se no mercado internacional, até porque a competitividade de países tem custos de produção muito mais inferiores”, disse João Ferreira.
O responsável referiu que Angola tinha então (2015) uma “fraquíssima” produção de café, de cerca de 12 mil toneladas por hectare, e registava igualmente níveis baixos de industrialização.
De acordo com o responsável, um dos desafios era munir o continente africano de tecnologia de ponta, para se passar da “cultura do café intensiva em mão-de-obra para uma cultura intensiva em capitais”. Será na defesa desta tese que hoje se incentiva a produção familiar?
“África precisa mecanizar a cultura do café, é preciso utilizar alguns agro-químicos, é preciso revermos o nosso sector do café, para torná-lo mais competitivo. O que estamos a discutir do ponto de vista da investigação é um pouco isto: que projectos fazer, que tipo de tecnologias abordar, que tipos de laboratórios termos, se vamos para o tipo de reprodução do café, por sistema de produção generativa vegetativa, que tipos de variedades conservar”, explicou João Ferreira.
África representava em 2015 cerca de 5% da produção mundial de café, tendo uma baixa competitividade, fracas produções por hectare, que variavam entre as 300 e os 500 quilogramas por hectare, enquanto os outros países apresentam produções de cerca 3.000 quilogramas por hectare.
Enquanto província ultramarina de Portugal, até 1973, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia. Não tenhamos receio de aprender com quem sabe mais e fez melhor, muito melhor. Só assim poderemos ensinar quem sabe menos.
Angola era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.
Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.
Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.
Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.
Folha 8 com Angop